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sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Ela e o espelho


Hoje ela acordou, se olhou no espelho e não encontrou mais aquela menina. Tocou em seu rosto, observou seu corpo, olhou de um lado pra o outro, puxou seu cabelo pra lá e pra cá, seus olhos escorregaram para a fotografia que estava na cabeceira. Voltou a observar seu reflexo no espelho e chegou à conclusão que a menina não estava mais lá.
Muitos diziam que isso iria acontecer, mas ela não usou a varinha de condão, nem mágica alguma, apenas a vida sem aviso prévio, sem nem ela mesma perceber transformou aquela garota e um belo dia ela não estava mais ali.
Ela se deu conta que seus sonhos não eram os mesmos, o gosto tão pouco, não usava mais o mesmo corte de cabelo, as roupas eram outras, não ouvia mais a mesma música, o príncipe não era o mesmo. Aliás, ela já nem mais acreditava em príncipes. Procurava o cara normal, que como ela tivesse seus defeitos, mas a fizesse feliz! Na verdade ela não procurava, deixava a vida lhe apresentar. Ela tinha tomado às rédeas de sua vida e tinha entendido que para ser feliz tudo dependia dela. Aprendeu a ser feliz sozinha, se valorizando e o tal cara quando aparecer será apenas para complementar e fazer parte da felicidade e não ser o motivo.
Ela tinha aprendido a rir dela mesma, e ainda em frente ao espelho as horas apressadas, os dias corridos a levaram para ali e quando percebeu a menina tinha saído de cena para a mulher de compromissos, agenda cheia, horas limitadas entrar. O que antes lhe tirava o sono, hoje era motivo de graça.
Ela tinha que estudar, trabalhar, dar conta de tanta coisa que nem parecia mais ser aquela menina que chorava quando ele não ligava, que se enfurecia quando seu pai dizia a hora de chegada, que fazia birra quando sua mãe lhe puxava as orelhas falando aqueles sermões sem fim.
A menina do  all star, agora usava salto alto para seduzir e ficava descalça para encantar. Seus olhos se tornaram mais precisos, decididos sabendo o que quer, mas seu sorriso ainda era o mesmo de moleca.
Ela foi se transformando, se virando em tantas, em mil sem perder sua essência. Era mãe, mas também filha. Era doce, mas também onça de virar a mesa. Era chata, mas sabia provocar sorrisos. Às vezes dava uma de louca, mas também era sóbria, cumpria com seus deveres e compromissos e quando estava esgotada jogava tudo pra o alto e fugia pra um barzinho, pra cama, pra seus braços.
Quando ela se deu conta tudo mudou, tudo havia mudado e ainda se olhando no espelho sorriu. Era como um filme que se passava em sua cabeça trazendo lembranças. E no silêncio afirmava aquilo já lhe diziam: - tudo passa e tudo sempre passará. Nem ela mesma acreditava que tanta coisa iria mudar. Ela agora sacudia sua cabeça como fosse para afastar as lembranças, terminou de passar seu batom e riu mais uma vez e percebeu que às vezes sentia falta de tudo aquilo, então olhou para traz e achou melhor deixar tudo como estava, pois foi à vida seguindo seu rumo certo e lhe levou para ali.
O silêncio foi quebrado pelos sons dos seus passos apressado. E lá ia ela a menina transformada em mulher atrasada para o trabalho pegou a chave do carro e mais uma vez seus pensamentos trouxeram a lembrança de que antes ela brigava com o espelho, hoje o velho amigo lhe mostrou que ela cresceu se tornou uma mulher madura, independente, com tanta responsabilidade, decidida no que quer, se respeitando, gostando dos seus contornos assim como eram, feliz quando podia e quando não podia dava um jeito. Seus pensamentos então ecoaram alto entregando a conversa que ela e o espelho tiveram mais cedo e de sua boca saiu palavras que falavam no tom divertido: Ninguém é igual à vida toda!

Layssa Santos